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Decisões no piloto automático: como os algoritmos influenciam seu comportamento

  • Foto do escritor: Mariane Morais
    Mariane Morais
  • 9 de jan.
  • 3 min de leitura

Você já teve a sensação de que o celular “sabe” o que você quer antes mesmo de decidir? Aquela música perfeita que toca no momento certo. A notificação de um produto que você pensou em comprar. A série que você nem sabia que queria ver até começar a maratonar. Coincidência? Nada disso. São os algoritmos em ação.

O que são algoritmos ? E por que eles estão no comando?
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De forma simples, algoritmos são conjuntos de instruções que dizem a um sistema o que fazer. No contexto digital, são programas que analisam nossos comportamentos, aprendem com nossos dados e nos entregam conteúdos personalizados.

Plataformas como Instagram, TikTok, Netflix e Google usam algoritmos sofisticados baseados em inteligência artificial para prever o que você vai gostar, clicar, comprar ou assistir. O objetivo? Prender sua atenção. E quando não estamos conscientes disso, começamos a operar no piloto automático.


Segundo Shoshana Zuboff, autora de A Era do Capitalismo de Vigilância (2019), vivemos uma era em que nossos dados comportamentais são extraídos, analisados e comercializados. Ela alerta já no ano de 2019 que não se trata apenas de prever comportamentos, mas de moldá-los. Assustador? Talvez. Mas necessário de entender.

Na neuropsicologia, sabemos que o cérebro adora atalhos. Eles economizam energia mental. Daniel Kahneman, ganhador do Nobel e autor de Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar (2011), chama isso de “Sistema 1” o modo rápido, automático e inconsciente de tomar decisões.

Os algoritmos “conversam” diretamente com esse sistema. Em vez de raciocinar profundamente sobre nossas escolhas, somos induzidos por estímulos que nos agradam ou nos causam reações emocionais instantâneas.


Exemplos do cotidiano:

  • Spotify: Quando você escuta uma playlist recomendada e descobre músicas “do seu gosto” sem procurar ativamente, o algoritmo está antecipando seu comportamento.

  • Instagram: O tipo de conteúdo que aparece no seu feed está ajustado ao que você interage. Quanto mais você curte, mais parecido será o próximo conteúdo. E o ciclo continua.

  • Google Maps: Sugere rotas com base nos seus hábitos anteriores — e às vezes nem nos questionamos se é o melhor caminho. Só seguimos.

  • E-commerce: Ao comprar algo, você recebe sugestões com frases como “clientes também compraram”. Isso aciona nosso viés de prova social: se outros compraram, deve ser bom.


Esses exemplos mostram que, muitas vezes, não estamos decidindo estamos sendo guiados.

O preço da conveniência
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A personalização tem seu valor. Ela torna a experiência digital mais fluida. No entanto, quando deixamos que tudo seja decidido por padrões automatizados, perdemos a autonomia.


É aqui que mora o perigo: se não refletimos sobre nossas decisões, acabamos vivendo sob a ilusão da escolha. Estamos mesmo decidindo o que vemos, consumimos e acreditamos? Ou estamos apenas reagindo a estímulos selecionados por um sistema que sabe mais sobre nós do que nós mesmos?

Como recuperar o controle?
  1. Questione os porquês: Por que estou vendo esse conteúdo? O que me levou a clicar nisso?

  2. Pratique o tempo offline: Desconectar é uma forma de reconectar-se com suas decisões internas.

  3. Crie pausas conscientes: Antes de consumir ou comprar algo, respire, reflita e avalie se é uma necessidade real ou um impulso.

  4. Busque diversidade de fontes: Não se informe apenas por um único feed. Isso reduz o viés de bolha algorítmica.

Conclusão

Não precisamos demonizar os algoritmos. Eles são parte do mundo digital e vieram para ficar. O que precisamos é desenvolver consciência crítica sobre como eles nos afetam.

A neuropsicologia nos ensina que a atenção é um recurso escasso — e os algoritmos competem por ela todos os dias. Quanto mais conscientes estivermos, mais livres seremos para decidir de fato.


Você está no controle? Ou está apenas deslizando o dedo no piloto automático?


Referências:

  • Zuboff, S. (2019). A era do capitalismo de vigilância. Intrínseca.

  • Kahneman, D. (2011). Rápido e devagar: duas formas de pensar. Objetiva.

  • Pariser, E. (2011). The Filter Bubble. Penguin Press.

  • Eyal, N. (2019). Indistraível: como dominar a atenção e assumir o controle da sua vida. Gente.

Sua leitura semanal para pensar além do automático.

Mariane Morais

NeuroPsicologa

CRP 12/19671

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